No dia 1° de outubro passado, uma jovem promessa da escalada internacional, o americano do Alaska Balin Miller, de 23 anos, estava quase no final da subida solo ao cume da montanha El Capitan, no parque Yosemite, nos Estados Unidos, quando, na frente de milhares de seguidores que o acompanhavam ao vivo pela rede social TikTok, despencou corda abaixo de uma altura de mais de 700 metros, com morte instantânea. Uma morte que poderia ter sido evitada por uma medida simples, aparentemente negligenciada, por distração ou excesso de otimismo: fazer um nó na ponta da corda pela qual rapelava em busca da mochila que havia ficado presa metros abaixo.
O caso de Miller, que chocou a comunidade escaladora do planeta, infelizmente não é único. Neste ano, só no Brasil, dois outros casos de montanhistas foram registrados com o mesmo resultado fatal. Em ambos, o problema parece ter sido o mesmo: não havendo um nó na ponta da corda, nada os impediu de despencar no vazio.
Rapelar, para quem nunca se aventurou pelas paredes da vida, é escorregar alguns ou muitos metros por uma corda que passa pela cadeirinha vestida pelo escalador, que tem mecanismos de freio para reter sua queda. Quando a corda não tem um nó na ponta, é fácil imaginar que ela vai passar diretamente pelo mecanismo, deixando o corpo do cidadão solto no espaço. Mais ou menos como uma linha de costura que, sem nozinho na ponta, escapa ao se puxar o primeiro ponto.
Mas o mesmo alerta serve para quem vai descer “de baldinho”, quando a pessoa desce “sentada” sobre a corda —que precisa ter a mesma trava, ou seja, nó, ou o “balde”, leia-se seu próprio corpo, vai descer direto.
Mas, afinal, por que ainda morrem pessoas por falta de algo que deveria ser tão óbvio e que não requer curso avançado de marinheiro ou medalhas de escoteiro para se fazer em poucos segundos?
Para o montanhista brasileiro Eliseu Frechou, de 57 anos e mais de 40 de escaladas, embora seja uma técnica simples, “de fechar seu sistema de segurança, coisa que se aprende na primeira aula de escalada, exatamente por ser coisa básica muitas vezes as pessoas não dão a devida atenção”. Ele compara isso a quem acha “que dirige para caramba, mas fica usando o celular, ou deixa de dar seta para virar uma esquina com o carro porque já deu uma olhadinha”. E é aí que acontecem as grandes estatísticas.
“Nem dá para falar em irresponsabilidade, só deixa de fazer o nó deliberadamente quem é muito besta, é mais negligência de quem é experiente e acha que vai dar tudo certo, excesso de confiança, distração, fazer as coisas com pressa ou cansaço, na hora em que a pessoa está doida para chegar ao chão”, acrescenta. Embora ainda apareçam uns ou outros que reclamam que, com o nó, a corda pode enroscar na hora de puxá-la ao fim da descida, Frechou, com sua experiência em resgates e depois de ter constatado várias tragédias provocadas por esse problema, não perdoa: “Se você está no chão, não mais pendurado da corda, e ela se enroscou em algum ponto por causa do nó, volta lá e desenrosca, ora, porque o que não dá é para acreditar que você vai criar asas na hora que vazar no espaço por preguiça de desenroscar”.
E foi para mobilizar a comunidade escaladora em torno da importância de fazer o bendito nó que Frechou lançou, na terça-feira (12) passada, a campanha Faz o Nó na Ponta da Corda, com a hashtag #escaladasegura. Em menos de duas horas, “já tínhamos mais de 1.000 posts com esse conteúdo, fora os que foram replicando pelas redes”, comemora ele, aliviado.
E então, vamos divulgar a campanha Faz o Nó na Ponta da Corda?
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