Sempre fui interessado na língua portuguesa. Não sou especialista no idioma, mas tenho conhecimentos adequados –se não tivesse, dificilmente estaria escrevendo neste espaço.
Gosto da semântica (significado e sentido das palavras) e da estilística (escrita apurada e elegante). Vejo-me às vezes querendo inventar termos ou palavras, como fiz ao criar o verbo “trumpar”, em alusão a Donald Trump.
Desta vez, o personagem é Carlo Ancelotti, 66, italiano que dirige a seleção brasileira. Tenho acompanhado-o por entrevistas e pelas perguntas que responde após convocar o time.
Percebo que Carleto tem crenças e insistências, às quais nomeio: ancelottices. Atitudes que podem ser positivas, porém no meu olhar atual eu as encaro como, se não negativas, duvidosas ou pouco compreensíveis.
Ancelottice 1: Richarlison (crença). Titular na Copa de 2022, perdeu seu bom futebol. Gols sumiram, a reserva veio no Tottenham. Mesmo assim, Ancelotti o chama e bota fé que ele possa ser o centroavante na Copa de 2026. Confiança exagerada em quem mostra reduzida capacidade. (Recupere-se logo, Pedro.)
Ancelottice 2: Fabrício Bruno (insistência). O zagueiro que faz ótimo Brasileiro com o Cruzeiro, em sua primeira oportunidade com Ancelotti, contra o Japão, falhou bisonhamente no gol que iniciou a virada dos nipônicos. Ancelotti deve gostar de Fabrício, mas eu terei frio na barriga toda vez que ele pegar na bola. (Thiago Silva, quarentão, oferece mais segurança.)
Ancelottice 3: Fabinho (crença). Jogador medíocre que está esquecido no futebol desde que saiu do Liverpool (um dos melhores times do mundo), em 2023, para o Al Ittihad (meio de tabela no Sauditão). E que estava fora da seleção desde a Copa de 2022, quando foi reserva de Casemiro. Volta para ser reserva de Casemiro, com a diferença de estar quatro anos mais velho, com 32. Ancelotti considera que ambos têm características similares, mas é comparar carne de primeira com de segunda. Medíocre por medíocre, para primeiro volante seria melhor André, do Wolverhampton (Inglaterra), ou Éderson, do Atalanta (Itália), mais jovens.
Ancelottice 4: lateral esquerda (insistência na não insistência). Ancelotti escolheu a posição para experimentar sem parcimônia. Chamou, no curto período à frente da seleção, Alex Sandro, Carlos Augusto, Douglas Santos, Caio Henrique e, agora, Luciano Juba. Para os amistosos contra Senegal e Tunísia, estão no grupo Juba, Alex Sandro e Caio Henrique. Um deles vai treinar e, depois, torcer (pelo time e para entrar, pois não será titular). Tanta gente ali, e só um convocado (Lucas Paquetá) para a meia, setor de carência endêmica em que é preciso testar ou retestar mais gente (Andreas Pereira, Gerson, Alan Patrick, Matheus Pereira).
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O cardápio da convocação ficou meio insípido, e as ancelottices denotam teimosia e/ou desorientação de Carleto, com algumas decisões indecifráveis, que, todavia e assim espero, sejam compreensíveis para ele e sua comissão técnica.
O que não está compreensível é Ancelotti ainda tropeçar feio no português que pretendia aprender em até seis meses. Não tem de ser um Machado de Assis, mas não dá mais para trocar ontem por “ayer” e começar por “empezar”. Um pouco mais de estudo básico é necessário.
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Fonte: Folha de S.Paulo – Blogs – O Mundo É uma Bola – Principal